quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A prostituição toma as ruas

 Ação de prostituta em rua da Orla de Atalaia, uma das áreas 
mais procuradas. Moradores e empresários reclamam muito. 

Travesti em negociação com cliente no centro de Aracaju.
Na Atalaia a cena se repete.

Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 20/10/2013

A prostituição toma as ruas.
Por Milton Alves Júnior.

Para muitos, o que é considerado dinheiro fácil e rápido, para outros representa humilhação, desespero e falta de oportunidade de trabalho com carteira assinada. A prostituição no Estado de Sergipe, ao longo dos últimos cinco anos, vem apresentando aumento na 'oferta' e real vulnerabilidade para os profissionais do sexo que muitas vezes se deslocam de diversos estados das regiões Norte-Nordeste em direção à Grande Aracaju. Considerada rota de exploração sexual, inclusive de menores de idade, a menor unidade federativa passa a enfrentar outro problema: as drogas. No último mês de junho denúncias anônimas levaram a Polícia Civil e Ministério Público Estadual a investigar casas de prostituição. Em vários estabelecimentos foram encontrados pinos/bags de cocaína, pedras de crack e quilos de maconha.

Com a interdição desses locais, as comerciantes do corpo nu passaram a ocupar com maior frequência, normalidade e persistência as ruas do Centro de Aracaju e ruelas do bairro Atalaia, onde diariamente são procuradas por nativos e principalmente turistas em busca de 'diversão'. Esses termos utilizados nessa reportagem são usados pelas próprias prostitutas que 'tiram' o sossego dos moradores da região. Bate-bocas e até ameaça de morte são constantes nessas duas regiões.

Dizendo-se vítima da própria sociedade capitalista, a baiana Lidyane Aguiar disse ter segundo grau completo, mas que as oportunidades de emprego que lhe eram ofertadas geralmente não passavam de salário mínimo. "Quase que três vezes ao mês eu subo pra Aracaju na tentativa de ganhar um dinheirinho extra. Nem sempre a viagem é lucrativa como de costume, mas uma coisa é certa, rende muito mais, diria até oito vezes mais daqueles que estão em uma sala com ar-condicionado. Se é um jeito digno de faturar, isso só quem pode dizer sou eu", disse.

Assumida usuária de cocaína, ela disse já ter provado de diversos tipos de entorpecentes, mas o 'branco/pó' e o whisky seriam suas preferências. "Pra aguentar esse rojão, só com alguma química. Sei que estou me destruindo, mas assim como muitas, a minha ideia é parar com essa vida depois da copa, daqui até lá quero engordar a minha conta", pontuou.

Conhecida popularmente como a cracolândia da capital, o Centro da cidade a partir das 23h se transforma em um ponto de intenso tráfico de drogas e prostituição praticada por mulheres, travestis e adolescentes com idades que variam entre 13 e 18 anos. Sempre acompanhados por agentes que negociam os programas, os protagonistas do sexo entram e saem dos carros sem nenhum tipo de fiscalização por parte do poder público. Para os frequentadores, nas vias públicas onde o crack reina, raros são os guardas municipais ou homens da Polícia Militar que se arriscam em abordar e prender os meliantes.

Segundo um dos travestis que preferiu não ter o nome e imagem revelada, as rondas policiais são raras. "Quando isso acontece, com a gente não tem nada. Primeiro porque aquelas (prostitutas/travestis) que usam drogas geralmente são usuárias e possuem pouca quantidade, segundo porque estamos trabalhando assim como eles também. Cada um no seu cada qual. Já os vendedores de drogas e menores, esses sim acabam apanhando e muitas vezes presos", relatou.

Mapeamento - Conforme dados do Mapeamento de Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras, as rodovias sergipanas aparecem com aproximadamente 11 locais considerados suspeitos. Na lista publicada no primeiro semestre desse ano surgem os municípios de Malhada dos Bois, Laranjeiras, Nossa Senhora do Socorro, Itaporanga D'Ajuda, Estância, Umbaúba, Cristinápolis e Itabaiana.

Foi a partir desses dados e das denúncias anônimas, citadas no inicio da matéria, que levaram o Departamento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis (DAGV) a realizar uma operação especializada em locais destinados a encontros sexuais. As abordagens foram promovidas em estabelecimentos localizados também nos bairros América, Coroa do Meio e Siqueira Campos, em Aracaju. Já no interior de Sergipe, a operação se concentrou no povoado Cruz das Donzelas, em Malhada dos Bois, e em algumas cidades da região. Desde essa ação, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP/SE) garante estar trabalhando diariamente na tentativa de evitar que os crimes permaneçam sendo ocorridos. A Delegacia da Mulher e o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), também integram as investigações.

Em entrevista exclusiva concedida ao Jornal do Dia, Maria Niziana Castelino, a Candelária, presidente da Associação das Prostitutas de Sergipe (ASP), disse estar cansada e sem boas perspectivas para o progresso e qualificação das profissionais do sexo. Realizando trabalhos preventivos e educacionais em oito municípios, mais a capital, a ASP foi fundada em 1987 e registrada três anos depois.

Mostrando-se contrariada com a falta de união das próprias associadas, Candelária desabafou: "Não tenho mais idade para ficar enfrentando policial que agride prostituta. Infelizmente, o que mais me deixa triste é saber que elas mesmas só me procuram quando precisam de ajuda. Estamos dispostas para realizar palestras e acompanhamento médico, mas muitas só estão interessadas em usar drogas, bebidas alcoólicas e ganhar dinheiro com os programas", disse.

Ainda de acordo com a presidente, a respectiva idade venceu o desejo de mudança. "Não tenho mais idade pra continuar lutando pelo bem estar das garotas que trabalham aqui no Estado. Já conseguimos muito, inclusive o respeito dos policiais que nos atende na plantonista e DAGV. A falta de uma pessoa pra me ajudar nessa batalha fez com que o futuro das prostitutas aqui fique cada vez mais obscuro".

Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário